Xangô em certa ocasião daria uma grande festa em seu reino e foi até as terras de Oxalá para convidá-lo, pois fazia questão de contar com a presença do grande orixá. Este, porém, estava alquebrado pela idade e não agüentaria a longa viagem necessária. Ao ouvir a recusa, Xangô imediatamente prontificou-se a carregá-lo nas costas. E assim foi feito. O rei de Oió sentia-se orgulhoso em carregar seu velho pai pelos caminhos. Ao chegarem ao topo da grande pedreira que marcava o território de sua nação, Xangô parou para mostrar, orgulhosamente, a vastidão de seus domínios. Porém, ao firmar a visão, o monarca avistou uma linda mulher que, dengosamente mexia uma grande panela. Era Oiá, a bela guerreira que preparava o amalá que seria servido a ele. Glutão e mulherengo, Xangô esqueceu-se de sua valiosa carga e saiu em disparada deixando que Oxalá rolasse pelas pedras, ferindo-se e sujando seu belo traje branco feito especialmente para a festa. Sentindo-se humilhado e desrespeitado, Oxalá enfureceu-se e lançou maldições e castigos que atingiram diretamente todo o povo de Oió.Ao perceber a afronta que tinha causado a si e a seu povo, Xangô arrependeu-se profundamente de sua atitude e exigiu que a festa que seria em sua homenagem fosse transformada em uma grande manifestação de desagravo a Oxalá. Ordenou que o banhassem, trouxessem novas vestes e servissem muitos caracóis com inhame, pratos preferidos de seu pai. Durante muitos dias os festejos ocorreram e os súditos do reino dedicaram-se exclusivamente a satisfazer todos os desejos do ofendido. Oxalá, satisfeito e enobrecido com tantas manifestações carinhosas, retirou as maldições que havia lançado sobre aquela gente sofrida e bondosa. Mas a Xangô, não perdoou e impôs-lhe um castigo eterno: - Tu que tanto aprecias as boas comidas, jamais voltarás a comer em pratos de louça ou porcelana. Comerás nas gamelas de pau como o fazem o gado e os escravos!

Assim, até hoje, Xangô alimenta-se em gamelas cumprindo o castigo imposto por seu pai.